* Encontro não produziu declaração final
* Colômbia engrossou o coro por participação cubana
* Presidente Dilma Rousseff antecipou volta ao Brasil
Por Andrew Cawthorne e Brian Ellsworth
CARTAGENA, Colômbia, 15 Abr (Reuters) - A forte oposição de
países da América Latina contra as sanções impostas a Cuba pelos Estados
Unidos deixou o presidente norte-americano Barack Obama isolado na
Cúpula das Américas. O encontro terminou neste domingo sem produzir uma
declaração final e com presidentes retornando aos seus países
antecipadamente.
"Não houve declaração porque não houve consenso", afirmou
anfitrião da Cúpula, o presidente colombiano Juan Manuel Santos. Ele
buscou minimizar críticas de que a reunião foi um fracasso, dizendo que
as diferentes visões são um sinal de saúde democrática da região.
A presidente Dilma Rousseff decidiu antecipar o regresso para
Brasília e, em comum acordo com o presidente colombiano, cancelou a
reunião bilateral que ambos teriam após a cúpula. Oficialmente o Palácio
do Planalto informou que o retorno antecipado deveu-se a uma decisão da
presidente de chegar mais cedo em Brasília e evitar cansaço extra.
Apesar da tentativa de minimizar o fracasso, o final do encontro
de dois dias mostrou que o ambiente da Cúpula de Cartagena contrastou
com o evento de 2009, em Trinidad e Tobago, quando Obama, lobo após ter
sido eleito, foi recebido como uma estrela de rock.
Dessa vez, o presidente norte-americano foi alvo de diversas
insatisfações e saias justas. O principal problema da delegação dos EUA
foi quando 16 integrantes da segurança pessoal de Obama foram pegos em
um embaraçoso escândalo de prostituição.
A saga da prostituição foi um duro golpe para o prestígio dos
guarda-costas do serviço secreto norte-americano e acabou se tornando o
inesperado assunto do evento, realizado na cidade histórica de
Cartagena. "Pessoas responsáveis por fazer a segurança do presidente
mais importante do mundo não podem cometer o erro de se envolver com uma
prostituta", afirmou o guia turístico de Cartagena, Rodolfo Galvis, 60.
Onze agentes foram enviados de volta aos EUA e cinco militares
foram afastados de suas funções depois de tentarem levar pelo menos uma
prostituta para o hotel onde estavam hospedados, um dia antes da chegada
de Obama.
Um policial local disse à Reuters que o caso atingiu o ápice
quando funcionários do hotel tentaram registrar a prostituta na
recepção, mas agentes recusaram e mostraram seus documentos de
identidade.
"Alguém encarregado de cuidar da segurança do homem mais
importante do presidente do mundo não pode cometer o erro de se envolver
com uma prostituta", disse o guia turístico Rodolfo Galvis, 60 anos, de
Cartagena. "Isso prejudicou a imagem do Serviço Secreto (dos EUA), não a
Colômbia."
VELHA DISPUTA
Pela primeira vez, nações aliadas dos EUA, como a Colômbia,
reforçaram a demanda de que Cuba esteja presente na próxima reunião da
Organização dos Estados Americanos (OEA).
Diplomatas disseram que a disputa poderia emperrar a declaração
final planejada para este domingo no encerramento da cúpula. O texto a
ser divulgado foi pensado com objetivo de demonstrar unidade no
hemisfério.
"O isolamento, o embargo, a indiferença, olhar para o outro lado,
vêm sendo ineficazes", disse o anfitrião do evento, o presidente
colombiano, Juan Manuel Santos, sobre a questão cubana.
A Colômbia é um importante aliado dos EUA na região e conta com a
ajuda militar e financeira norte-americana para o combate a guerrilhas e
ao narcotráfico. Santos vem se manifestando sobre Cuba, apesar de suas
fortes diferenças ideológicas com o governo cubano.
Cuba foi excluída da OEA anos depois da Revolução Cubana,
liderada por Fidel Castro, em 1959, e não toma parte das cúpulas
americanas por causa da oposição dos Estados Unidos e do Canadá.
"Todos os países na América Latina e no Caribe apoiam Cuba e
Argentina, embora dois países se recusem a discutir isso", afirmou o
presidente boliviano, Evo Morales, que se referiu assim ao amplo apoio à
reivindicação de soberania Argentina sobre as ilhas Malvinas,
controladas pela Grã-Bretanha.
"Como é possível que Cuba não esteja presente na Cúpula das
Américas?!", indagou Morales. "De que tipo de integração estamos falando
se excluímos Cuba?"!
BOICOTE
O presidente do Equador, Rafael Correa, boicotou o evento por
causa da questão cubana. O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega,
também não participou da cúpula.
Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua e algumas nações
caribenhas afirmaram que não participarão de outras cúpulas se Cuba for
excluída.
Obama não falou sobre Cuba durante o evento na Colômbia. Mas
queixou-se de questões da Guerra Fria, algumas anteriores a seu
nascimento, prejudicarem as perspectives de integração regional.
O Brasil, potência econômica regional, liderou as críticas contra
a política de expansão monetária posta em prática pelos EUA e outras
nações ricas, a qual está enviando uma enxurrada de dinheiro para as
nações em desenvolvimento, forçando a alta das moedas locais e
prejudicando sua competitividade.
"É muito preocupante (...) a forma pela qual esses países mais
desenvolvidos, especialmente no último um ano e meio, a zona do euro tem
reagido à crise através, sobretudo, da expansão monetária provocando um
verdadeiro tsunami monetário", disse a presidente Dilma Rousseff ao
lado de Obama no sábado.
(Reportagem adicional de Mario Naranjo e Pablo Garibian, em Cartagena; Ivan Castro, em Manágua; e Ana Flor, em Brasília)
© Thomson Reuters 2012 All rights reserved.
Comentários
Postar um comentário