Acostumados às dificuldades de todo dia na ida e volta ao trabalho, moradores da Região Metropolitana de Belém descobriram, nesta semana, que o trânsito ruim da capital paraense podia se tornar péssimo. O início das obras do BRT - sigla em inglês para ônibus rápido - aliado à chuva e um ônibus no prego estrangulou a principal via de entrada e saída de Belém, a Almirante Barroso, e fez-se o caos. Belém parou. E os prognósticos não são dos melhores. O prefeito de Belém promete entregar a obra até outubro, mês de eleições municipais. A previsão é de que obra ajude a melhorar o transporte para 600 mil usuários de coletivos na capital paraense.
Especialistas afirmam que para concluir apenas o trecho de seis quilômetros da Almirante Barroso seriam necessários de 12 a 18 meses. Ou, seja, o próximo um ano e meio vai exigir paciência redobrada de motoristas e pedestres. O projeto total tem 20 quilômetros, segundo vídeo institucional disponibilizado pela prefeitura na internet.
O sacrifício dos próximos meses seria aceito de bom grado se não fossem as dezenas de dúvidas que cercam o projeto avaliado em R$ 430 milhões, licitado a toque de caixa e cercado de críticas por todos os lados.
A principal artilharia contra o BRT vem do governo do Estado porque o projeto defendido com unhas e dentes por Duciomar Costa ameaçaria uma solução mais inteligente e definitiva para o verdadeiro transtorno que se tornou o tráfego na Região Metropolitana. O Ação Metrópole conta com apoio da Jica, a Agência de Cooperação Japonesa, que, desde os anos 80 vem fazendo estudos em busca de uma solução para evitar o completo estrangulamento da entrada e saída de Belém. Os recursos – R$ 320 milhões – estariam em vias de ser liberados, uma vez que o projeto já foi aprovado por todas as instâncias internacionais. Faltaria apenas aprovação do Senado (praxe em caso de empréstimos vindos de outros países) para que os recursos fossem liberados.
Mas no meio do Ação Metrópole e do projeto da Jica tem o BRT de Duciomar Costa. Não é difícil, mesmo para um leigo, encontrar motivos para criticar o projeto. O primeiro e mais grave é iniciar as obras na avenida Almirante Barroso sem criar, antes, outros corredores para entrada e saída do centro de Belém. As soluções seriam o tão falado prolongamento da avenida João Paulo II até a avenida Mário Covas e a da Independência até a BR-316. Uma amostra grátis do que pode causar essa falta de alternativas foi apresentada aos moradores da RMB na última sexta-feira, quando Belém parou no final da tarde, horário de pico, com trabalhadores do centro de Belém voltando para suas casas nos municípios dos arredores da capital.
CONFLITO
Aos olhos de um especialista os problemas iriam muito além. Coordenador do programa Ação Metrópole, o engenheiro Paulo Ribeiro diz que o projeto da prefeitura entra em conflito com o Ação Metrópole não atende à Região Metropolitana priorizando o corredor da rodovia Augusto Montenegro, quando o correto seria priorizar o corredor da BR-316, por onde passam a cada hora 14, 5 mil passageiros em cerca de 450 coletivos, entre ônibus, vans e kombis. Na Augusto Montenegro, o volume de passageiros é bem menor - cerca de 8,1 mil - distribuídos em 190 veículos.
Os números avaliados por Ribeiro apontam que poderá haver estrangulamento do sistema mesmo se o BRT for concluído como pretende o município. Isso porque a previsão é de que 18 mil passageiros passem pelo corredor de São Brás a cada hora. Distribuídos em 90 ônibus, seria necessário embarcar 200 passageiros por minuto, além de exigir a passagem de um ônibus a cada 50 segundos. Dos 18 mil passageiros que chegam a São Brás, pelo menos, oito mil seguem para o centro. Quando o sistema da prefeitura entrar em ação, esses deverão buscar alternativas de transporte para o restante da viagem. “Pegarão ônibus menores, sistemas alternativos. O sistema ficará caótico”, prevê Paulo Ribeiro.
A solução para isso seria aprofundar os estudos sobre a localização dos terminais de integração. O Ação Metrópole, por exemplo, prevê o mesmo sistema de ônibus rápido, mas saindo da BR-316 na altura da Alça Viária e indo até o centro de Belém.
O BRT do prefeito Duciomar Costa prevê ainda só um terminal de integração na Augusto Montenegro, enquanto o Ação Metrópole prevê dois. (Diário do Pará)
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