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Memórias da Estrada de Ferro de Bragança (EFB)

No intuito de desenvolver a Região Bragantina o Governo inicia a construção da Estrada de Ferro de Bragança visando colonizar a grande extensão geografica que separa a capital do Estado a Bragança, criou ao longo de sua extensão colônias agricolas que passaram a fornecer produtos agrícolas para Belém.

Estrada de Ferro de Bragança
Trecho na Av. Tito Franco atual Av. Almirante Barroso, próximo a Escola de Agronomia do Pará (Hoje Escola Souza Franco). 

As etapas para a construção da estrada de ferro e, a implantação das colônias agrícolas que abrigaram os imigrantes de diferentes nacionalidades serão descritas cronologicamente a seguir.

CRONOLOGIA:

1848 – Gov. Imperial cedeu ao Gov. Provincial seis léguas de terras distantes de Belém, para ser demarcado e povoado.

1875 – Foi empossado o Pres. Provincial Dr. Francisco Maria Correa de Sá e Benevides. Entre as prioridades de governo era a colonização e a imigração na área destinada a EFB, trabalho desenvolvido inclusive em propagandas no exterior através dos consulados.

1875 – Chegaram os primeiros 68 imigrantes no dia 25 de Abril.

1875 – No dia 13 de junho houve a Festa de inauguração da Colônia de N. Sra. do Carmo de Benevides, com 50 colonos em sua maioria franceses. Benevides passou a ser a vanguarda inspiradora para as outras colônias que surgiriam depois na região.

1877 – Foi extinta a Colônia de N. Sra. do Carmo de Benevides, pelo Ministério da Agricultura, por concluir que a manutenção da colônia era insustentável aos cofres públicos. Por iniciativa do Pres. Da Comissão de colonização Dr. Antônio Gonçalves Nunes, a colônia não foi totalmente desativada, permanecendo 17 famílias francesas.

1877 – 800 flagelados foram levados para as terras de Benevides. O capitão Valentim José Ferreira para localizá-los.

1877 – Os lotes 73, 74, 75, 76 do Núcleo Colonial de Benevides foi escolhido por Valentim José Ferreira e a sua companheira Izabel para a sua Habitação. Izabel distribuía remédios e ervas para os doentes nordestinos, passou a ser chamada de Santa, dando origem mais tarde ao nome do lugar.

1878 – Chegaram mais 12.500 nordestinos a colônia. 

1884 – No dia 09 de setembro foi inaugurado o primeiro trecho da EFB. Na ocasião foram libertos escravos na colônia.


Estação de São Braz


1885 – No dia 05 de outubro o Dr. Tristão de Alencar Araripe assumiu o Gov. da Província, dando inicio a demarcação do Núcleo de Araripe (atual Americano) com 30 lotes, para 21 famílias açorianas.

1887 – Construção do prolongamento da via férrea até o Jardim Público (3.500m) a partir da Estação de São Braz à estação Central de Belém na Av. 16 Novembro. 


Estação Central
Foto: SIQUEIRA (2008)

1888 – Inauguração do prolongamento (José Bonifácio/ Gentil B./ dobrando na Rui B. até Mundurucus/ Batista C./Ângelo Custódio/Estação na 16 de Novembro (atual Hotel de Trânsito)).

1888 – Nova seca assolou o nordeste. Três mil e quatrocentos e oitenta flagelados chegaram a Belém, sendo recebidos no Núcleo de Araripe. Nesse período Thomaz Kellmon estabeleceu um engenho de cana de açúcar e distribuía quinino em pó para tratamento de malária. O americano tornou-se referência. As pessoas diziam: “-Vou pra americano / Moro em americano”.

1893 – Implantação do núcleo colonial de Castanhal (Região de planície possuidora de grandes pastos naturais, conhecida pelos boiadeiros que passavam com sua boiadas com destino a Belém de Campos de Castanhal).


Estação de Castanhal


Interior da Estação de Castanhal
Foto: SIQUEIRA (2008)

1895 – Criação do núcleo colonial de Marapanim.

1895 – Fundação do núcleo colonial de Jambu-Açu.

1895 – A ferrovia ao chegar à proximidade do povoado de Timboteua (lugar de Timbó) gerou um êxodo e a sua extinção em 1906. Surgindo um novo povoado as margens da ferrovia no Km 147: Nova Timboteua.


Parada de Timboteua
Foto: SIQUEIRA (2008)

1898 – Fundação do núcleo colônia de Santa Rosa.

1898 - Estabelecido o núcleo colonial José de Alencar, território desmembrado do nucleo de Marapanim.

1898 – Foi construído o núcleo colonial Anita Garibaldi (margem da estrada Castanhal/Curuçá).

1898 – Nascia o núcleo colonial de Inhangapy (3 Km de Castanhal).

No mesmo ano o Governo do Estado objetivando o desenvolvimento de pequenas propriedades rurais passa a estabelecer concessões para a criação dos Burgos Agrícolas, como o Burgo de Santa Rita do Caranã, Burgo Granja America (localizado nos fundo do núcleo de Americano). 

1899 – Foi implantado o núcleo de Ianetama (19 Km de Castanhal).

1899 – Santa Izabel foi elevada a categoria de Vila.

1903 – Surge a parada de Anhanga (Fantasma, visagem, duende) – povoado do São Francisco do Pará no Km 95.

1903 – Inauguração da estação do Livramento.

1903 – Aprovado o projeto para a construção das oficinas de Marituba (lugar abundante de Mari ou Marís). A gleba de Marituba era uma extensão do núcleo colonial de Benevides. No local havia uma fábrica de papel que foi destruída em 1898 por um incêndio. A área foi entregue ao governo para pagamento de seu débito. Sendo repassada à EFB para que fossem construídas as oficinas mecânicas que funcionavam na estação de São Braz.



Foto: Oficinas de Marituba



Foto: Trilhos, caixa dágua e as primeiras moradias de Marituba.

1904 – Inaugurado a estação de Igarapé-Açu (Igara: canoa; Açu: Caminho).


Estação de Igarapé-Açu
Foto: SIQUEIRA (2008)

1905 – Inicia a construção da Vila de Marituba e da estação.

1906 – Inaugurado o Ramal do Pinheiro (Icoaraci).

1907 – Inaugurado a Vila e a estação de Marituba.


Foto: Estação de Marituba (SIQUEIRA,2008)

1907 – Criada a primeira estação de Santa Izabel.


Última Estação de Santa Izabel
Foto: SIQUEIRA (2008)

1907 – Inaugurado o trecho próximo a Peixe-Boi (Km 163) e da estação ferroviária.


Parada de Peixe-Boi
Foto: SIQUEIRA (2008)

1908 – Trilhos chegam a Cachoeira (Quatipuru) atual Miraselva no Km 211. Pertencentes a Capanema (significa terra azarada ou caça escassa). Que anos mais tarde receberia uma estação. 


Estação de Capanema
Foto: SIQUEIRA (2008)

1908 – Criado o assentamento de Tracuateua (lugar abundante de Tracuá) e uma parada (Km 221)

1908 – Às 23hs de 2 de abril, Augusto Montenegro saiu de Belém e, as 6hs e 45 min. chegou a Bragança. No dia 7 de setembro foi inaugurada a estação Dr. Raimundo Viana. Inicialmente haviam duas viagens semanais (Segunda e sexta), depois passou a ter viagens diárias, com saída as 5hs da manhã e chegada as 15hs. O telegrafo implanto junto com os trilhos tinha a função de avisar se tinha alguém para embarcar nas estações e paradas.


Estação de Bragança
Foto: SIQUEIRA (2008)


Estação de Bragança no dia da procissão de São Benedito
Foto: SIQUEIRA (2008)

1922 – EFB de propriedade do Estado do Pará passa a Pertencer ao Gov. Federal.

1930 – Juarez Távora líder da revolução nacional (Era Vargas), por imposição das Forças Armadas do Pará, viu-se obrigado a acatar as exigências impostas pelos políticos a designar como interventor Federal Magalhães Barata. Távora na época prometeu vingança.

1956 – Juscelino K. através de um Plano de Metas intensificou a expansão da rede rodoviária nacional.

1957 – EFB foi incorporada a rede Ferroviária Federal.

1960 – Foi estabelecido o Ramal entroncamento até o porto de Belém (Av. Pedro A. Cabral)


Parada do Entroncamento

A imagem a seguir sinalizava aos viajantes do trem que estavam chegando em Belém, com a última parada do entroncamento.


Foto: Curva da Castanheira (Agenda 2011 do Shopping Castanheira)

No início da década de 1990, a especie morreu. Sendo relembrada no nome do shopping construído na mesma época.

1960 – Construído a Rodovia BR-010 (Belém-Brasília), na mesma época a EFB foi inserida no Plano de Extinção de Transportes. Surgem as primeiras linhas rodoviárias.


BR-010 no trecho próximo a Marituba

Além das principais estações foram construídos ramais como o de Benfica e o de Benjamim Constant (estação de Sapucaia) e anexada a EFB em 2 de outro de 1910.

A diminuição de passageiros da ferrovia causou queda no faturamento da Companhia gerando déficit. Sendo este a grande arma de vingança encontrada pelo Ministro da Aviação, o general Juarez Távora (Gov. Militar de Castelo Branco) ao povo do Pará pelo o acontecido de 1930.

1964 – Em 26 de dezembro ficou estabelecido que 31 de dezembro seria a data máxima de funcionamento da EFB determinada pelo Gov. Federal. 

Na época da extinção haviam trinta locomotivas. Todas as cidades que dependiam da estrada para escoar seus produtos precisaram rasgar um caminho até as margens da estrada rodoviária. Juarez Távora ordenou que tudo que fazia parte da história deveria deveriam ser destruídos, como as principais estações, restando apenas os prédios das paradas das pequenas vilas. Os trilhos foram retirados e enviados a sua terra natal, Ceará. 


Maria Fumaça
Foto: SIQUEIRA (2008)



Estação de Castanhal demolida em 1966
Foto: SIQUEIRA (2008)

Foram 82 anos de funcionamento, transportando não só mercadorias, mas sonhos, realidades, esperança, desejos e muitas vidas.



Maquinistas

Fonte: SIQUEIRA, J. L. F. Trilhos: o caminho dos sonhos (Memorial da Estrada de Ferro de Bragança). Bragança, 2008.

Comentários

  1. É triste... o que tinha de evoluir e hoje ser trem bala, e trem bola furada

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