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Entrevista de Apolônio Brasileiro

Militante do PT desde 1988, Apolônio Brasileiro iniciou sua militância no Movimento Estudantil. Foi vice-presidente da UMES de Belém, membro do coletivo nacional da juventude do PT, coordenador do Centro Acadêmico de Direito da UFPA e membro da Federação Nacional de Estudantes de Direito. No Governo do Povo de Belém, foi Coordenador de Táxis e Transportes Especiais da CTBEL, saindo em 2003 para assumir à chefia de gabinete da bancada do PT na Assembléia Legislativa do Estado do Pará. Foi Gerente do Planejamento Territorial Participativo na região Metropolitana e, em 2008, foi candidato a vereador de Belém, obtendo 4.088 votos.

Profª Edilza Fontes: Apolônio, como você avalia a eleição para prefeitura de Belém em 2008? Por que o PT não passou para o segundo turno?

Apolônio Brasileiro: Acredito que Belém foi vítima de um grande estelionato eleitoral. Um ano antes das eleições de 2008, Duciomar estava muito mal avaliado pela população. Quando comparávamos seus 03 anos de gestão com o período em que o PT esteve da frente da prefeitura, ficava evidente o desmantelamento do projeto de cidade que estávamos construindo, tanto no campo da inclusão social, com o fim de praticamente todos os projetos que desenvolvíamos – bolsa escola municipal, sementes do amanhã, banco do povo, escola circo – como na área de na prestação de serviços públicos e infra-estrutura, com a paralisação das ações de urbanização e saneamento dos bairros periféricos e sucateamento das redes municipais de educação, saúde etc. Estava evidente a diferença dos dois projetos de cidade que disputaram o 2º turno em 2004.

Aquele era o momento do PT liderar a oposição ao governo municipal, tanto no parlamento como no movimento social, e consolidar essa avaliação negativa. Como não fizemos isso, demos a oportunidade para o Duciomar recuperar sua imagem a partir de uma estratégia de uso da máquina pública, no ano eleitoral, baseada exclusivamente em obras de pavimentação. Via de regra, as obras que ele desenvolveu nesse período foram interrompidas logo após o 2º turno das eleições.

O fato do PT não ter conseguido liderar essa oposição social explica em parte nossa ausência do segundo turno, porém outros fatores corroboraram para esse resultado. Nós não conseguimos ampliar nossa aliança para além dos partidos de esquerda e fomos extremamente prejudicados com a quebradeira das urnas acompanhada com a chuva da tarde no dia da eleição.


Profª Edilza Fontes: Você foi candidato a vereador em 2008, ficou na suplência, o que faltou para chegar lá?

Apolônio Brasileiro: Avalio como positiva a campanha para vereador em 2008. Já tinha participado inúmeras vezes de campanhas proporcionais do partido, apoiando ou coordenando, mas a experiência de ser candidato foi, sem dúvida, algo novo. A eleição para vereador é a campanha mais disputada e difícil de todos os cargos eletivos e eu, em uma primeira candidatura, obtive 4.088 votos, votação superior a 05 dos vereadores eleitos e 721 votos a menos que o Ademir Andrade (o último eleito da nossa frente), ex-senador da república e uma liderança com muito mais tempo de estrada que eu.

Por isso não acredito que tenha faltado nada (além dos 721 votos). Tivemos os problemas de infra-estrutura que toda campanha oriunda no movimento social tem, mas graças a determinação de uma militância aguerrida, que lutou até o último minuto para me eleger e levar o Mário para o segundo turno, superamos esse obstáculo e conquistamos essa votação expressiva.

Profª Edilza Fontes: Qual sua avaliação do Diretório Municipal do PT de Belém?

Apolônio Brasileiro: Tenho uma avaliação muito crítica das últimas gestões do PT de Belém, mas antes de responder sua pergunta, gostaria de esclarecer que minha crítica não se resume aos ex-presidentes. Embora não pareça (até pelo formato de eleição de nossos presidentes em 2 turnos e desvinculada das chapas), as direções do PT não são órgãos presidencialistas. O partido é dirigido por uma executiva colegiada composta proporcionalmente a votação das chapas que concorrem ao PED. Assim, a responsabilidade pelas gestões do partido são coletivas e igualmente proporcionais.

Respondendo agora sua pergunta, nas últimas gestões assistimos um distanciamento crescente da direção do partido de sua base militante. Temos uma ausência de fóruns de discussão dos rumos do PT com nossos filiados e, nas últimas gestões, temos tido dificuldade de reunir o próprio Diretório e a Executiva. O PT tem uma gestão administrativa e financeira pouco profissional, e os nossos diretórios distritais funcionam sem estrutura nenhuma, na base do heroísmo dos nossos dirigentes.

O principal avanço que tivemos na atual gestão foi regularização dos repasses estatutários aos Diretórios Estadual e Nacional e a formulação de uma proposta de formação política (executada somente em um distrito). Na gestão anterior, nas vésperas da realização de PED, o PT/Belém tinha que negociar parte de sua sede com o Diretório Estadual para poder quitar as dívidas acumuladas. Contudo, esses avanços são absolutamente insuficientes frente às necessidades que nossos desafios nos impõem.

Profª Edilza Fontes: Se eleito para presidente, o que você pretende mudar?

Apolônio Brasileiro: Temos que organizar a gestão para criarmos as condições de avançarmos na nossa intervenção política de defesa dos nossos governos Federal e Estadual e para liderarmos a oposição ao Governo Duciomar em Belém. Para isso primeiramente vamos apresentar ao Diretório o projeto de recuperação financeira do PT. Além de uma campanha específica de captação de doações para o partido entre militantes e simpatizantes, pretendemos aprovar uma política de quitação das anuidades dos filiados casada com nosso projeto de estruturar política e financeiramente os diretórios distritais. Para isso, defendemos que o PT/Belém institua o repasse de 50% da arrecadação municipal das anuidades dos filiados para os distritos, delegando aos mesmos parte da tarefa de executar o plano de formação política e de assessorar o DM na campanha de quitação.

Além disso, pretendemos aprovar a reestruturação da executiva de Belém, adequando nossa estrutura dirigente as resoluções do 3º Congresso do Partido e reforçando as organizações setoriais do PT, instrumento importantíssimo para estreitarmos nossas relações com o movimento social. Para isso, queremos instituir que todas as coordenações setoriais sejam eleitas em fóruns dos militantes petistas da referida setorial, que teriam a tarefa de organizar nossa intervenção do movimento social específico e formular políticas públicas para cada setor.

Outra área que precisamos avançar urgentemente é na comunicação do PT/Belém com os seus militantes. Vamos priorizar a instituição de um instrumento de comunicação periódica com a base do partido distribuída através de mala direta e a criação da página da internet do PT/Belém. Assim, poderemos manter nossos militantes informados sobre as ações dos Governos e dos movimentos sociais, dando condições de cada militante ser agente da nossa intervenção política na sociedade.

Por fim, precisamos profissionalizar a gestão do partido. Espero que o próximo Diretório possa informatizar definitivamente a gestão partidária, instituir rotinas administrativas consolidadas e impregnar o DM do modo petista de governar. Temos que seguir o exemplo de nossos governos e instituir nossas marcas de gestão também na administração do partido. Vamos começar propondo a criação do Orçamento Participativo do Militante Petista, chamando nossos militantes para decidir a política de investimento do DM e, a partir daí, aprofundar cada vez mais a participação militante na gestão.

Profª Edilza Fontes: Por que a Unidade na Luta e o PT Prá Valer não formaram uma única chapa para concorrer a presidência do PT Belém?

Apolônio Brasileiro: O PT pra Valer e a Unidade na Luta fazem parte, junto com a Articulação Socialista, do mesmo campo a nível nacional, chamado de CNB (Construindo um Novo Brasil). Por conta disso, construímos uma aliança na chapa estadual e em diversos municípios para o PED 2009. Nossas direções estaduais tentaram reproduzir a estratégia conjunta da CNB no Estado também na região metropolitana, propondo dividirmos a responsabilidade de presidir os diretórios na região.

Em que pese esse esforço da coordenação estadual da CNB, não foi possível articular que os companheiros nos municípios recuassem de suas pretensões locais em favor dessa estratégia unificada. Assim, acabou que a estratégia do PED foi decidida municipalmente. Em Belém, o PT pra Valer lançou chapa própria e a Unidade e a AS lançaram outra. Em Ananindeua, o PT pra Valer está junto com a AS e a Unidade lançou uma chapa sozinha. Em Marituba e Benevides, as três tendências estão unificadas em uma só chapa. E por ai vai!

Profª Edilza Fontes: Vai ter segundo turno na disputa do PT municipal de Belém? Quem irá para o segundo turno?

Apolônio Brasileiro: Creio que teremos segundo turno em Belém. Somos candidatos eu, João Arroyo, Almir Trindade, Adalberto Aguiar e Suely Oliveira. Se considerarmos somente o resultado do PED de 2007, acreditaria que o Adalberto, a Suely e eu estaríamos disputando as vagas no segundo turno.

Contudo, o número de filiados cresceu muito neste período. Saímos de pouco mais de 6.000 para mais de 14.000 filiados. São 8.000 novos filiados que vão votar pela primeira vez nesse PED. Além disso, a configuração das chapas mudou muito de um pleito para outro. No PED passado, o campo Mensagem ao Partido tinha um candidato unificado, mas em 2009 lançou a Suely Oliveira e o Professor Arroyo. O PTLM (tendência ao qual pertence o Almir Trindade) lançou “chapa pura” em 2007. Hoje o Almir tem o apoio de diversas outras tendências. Acredito que só as urnas, no Domingo, poderão responder com segurança quem irá disputar a presidência do PT/Belém dia 06 de dezembro, mas pela receptividade com que a militância está acolhendo nossa campanha, acredito que seremos uma das candidaturas que disputarão o 2º turno.

Profª Edilza Fontes: Como você avalia a votação no TJE, em relação à intervenção no Estado?

Apolônio Brasileiro: Uma tentativa de golpe contra a democracia, sem nenhuma razão plausível que a justifique. No nosso governo diminuímos o número de reintegrações de posse não cumpridas. A grande divergência é que, antes de enveredar pelo uso do poder de polícia do Estado, nosso governo optou pelo diálogo e pela construção de pactos e consensos com os movimentos sociais. Essa metodologia tem desagradado parte da elite agrária do Pará, acostumada a velha lógica de resolver os conflitos fundiários utilizando a força policial estatal na defesa de seus interesses, por vezes inclusive de forma ilegal e criminosa.

Profª Edilza Fontes: Para você qual o melhor arco de alianças para a reeleição da governadora Ana Júlia em 2010?

Apolônio Brasileiro: O nosso projeto político no Pará, mesmo depois desses três anos de governo popular, ainda não é hegemônico na sociedade. Por isso temos que montar uma aliança ampla, que dê suporte a nossa vitória e nos garanta a oportunidade de aprofundar as transformações que estamos realizando no Estado. Creio que temos todas as condições de montar essa aliança ampla, que envolva além dos partidos tradicionais de esquerda, outros partidos interessados em se contrapor a volta do tucanato ao Palácio dos Despachos.

Mas para além das ampliações partidárias, acredito que devemos investir mais em ampliar nossas alianças com setores sociais. Para construirmos uma aliança vitoriosa em 2010, precisamos estreitar ainda mais nossa relação com os movimentos sociais e com os setores do empresariado que reconhecem no projeto do PT o avanço para a consolidação de um modelo de desenvolvimento econômico menos predatório – tanto socialmente como ambientalmente – e por isso mais duradouro.

Obrigada Apolônio pela sua entrevista.

Comentários

  1. seu blog ta Chique ta até no Diario do Pará

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  2. Olha o reporter diario professora

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  3. PROFESSORA EDILZA.
    ATENÇÃO...........
    O CHAMADO.

    DEUS DUVIDA E O DIABO BATE PALMA.

    Senhora editora parece que o ano de 2009 não terminará como todos esperavão....Esta chegando algo que irá sem duvida surpreender a muita gente inclusive a senhora....Será na verdade uma verdadeira revolução e que dizem que deixará cego enchergando,politico mudando de profissão,govêrno enfim governando,enfim os que já viram dizem que é o bicho.

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  4. E a Suely? Não vai responder a entrevista, professora?

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  5. IMBIRIBA NÃO É MAIS DA SEMA
    ESTÁ NUMA ASSESSORIA DA PRESIDÊNCIA DA COSANPA
    FEZ ÁGUA A DIRETORIA DO MOÇO

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  6. deve ser algo fenomenal
    até cego ENCHERGANDO...
    isto é coisas dos "irmãos divinos"

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  7. Ah... O Apolonio pegou leve de mais com a Unidade na Luta. Esperava que ele dissesse que foram os culpados de não ter saído a chapa unificada do CNB!!! Muito água com açucar pro meu gosto essa entrevista.

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  8. Eleição do PT 2009: SUELY ATENTA CONTRA A ÉTICA PARTIDÁRIA NO PT

    As filiações em massa que entupiram o Partido dos Trabalhadores de filiados (que em 2008 filiou mais de 9 mil pessoas somente em Belém) quebrando a sua lógica de partido militante representa o peso do dinheiro dos interessados em influenciar e ditar as regras do PED (Processo de Eleição Direta) 2009. Isto faz arte da estratégia da campanha endinheirada da secretária Estadual de Desenvolvimento Urbano, Suely Oliveira, à presidência do PT de Belém:

    1- A chapa de Suely foi pega em flagrante delito partidário na última sexta-feira que antecede o pleito petista (será realizado domingo) fazendo QUITAÇÃO DE FILIADOS EM MASSA (sem a presença dos filiados, supostamente interessados) o que pode comprometer a candidatura a presidente municipal de Suely Oliveira e do seus candidatos nos distritos do DABEN e DAENT. Os funcionários do PT de Belém Márcia e Luiz (“Padre”), receberam dos candidatos distritais e representante da chapa da DS, José Edson (DABEN) e Loury (DAENT) milhares de reais referente às ditas QUITAÇÕES, o que atenta contra o regulando eleitoral do Partido dos Trabalhadores e a ética partidária;

    Isto é um absurdo e um atentado intolerável ao PT que deve tomar as providências e a impugnação devida da candidatura de SUELY, JOSÉ EDSON e LOURY.

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