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Entrevista com Márcia Macêdo

Márcia Macêdo, produtora de cinema, ex-presidente da Pará 2000, produtora de vários curtas paraenses, como o “Chama Verequete”, “Dias”, "Severa Romana", " A onda – Festa na Pororoca"(animação), além de manter há quatro anos o projeto itinerante "Caravana da Imagem", que já percorreu 07 municípios paraenses com oficinas de cinema e mostra de filmes. É idealizadora e produtora executiva da Mostra de Cinema "Curta Pará Cine Brasil", que entra em sua sétima edição no ano de 2010. É presidente da Central de Produção – Cinema e Vídeo na Amazônia, associação criada e em plena atividade desde 1998.

Profª Edilza Fontes: Márcia Macêdo, há uma política no Pará voltada para produção cinematográfica?

Márcia Macêdo: O que observamos hoje no Estado do Pará é uma política muito tímida, sem conexão com o movimento que existe há mais de uma década. Isso é lamentável, pois sem uma política pública estrategicamente elaborada com o objetivo de fomentar e divulgar a produção local ficamos sempre em uma posição “de um passo atrás”, o que observamos são focos de resistência na área de cinema e nas demais áreas da produção cultural, muitos deles amparados pelos programas do governo federal.

Profª Edilza Fontes: Quais são os nós cruciais desta cadeia produtiva que precisam de maior atenção?

Márcia Macêdo: Na realidade, na minha opinião, ainda não tivemos a felicidade de ter no cargo de Secretário de Cultura um profissional de sensibilidade real e honesta para visionar a importância da linguagem audiovisual para o desenvolvimento cultural (no sentido mais amplo) do Estado. Se nos detivermos em uma avaliação mais crítica da política do Estado (do município inexiste completamente) constatamos que tivemos um único edital ao longo desses três anos do atual governo. Acredito que precisamos de um “ braço” mais forte e decisivo por parte da Secretaria de Cultura e as instituições a ela ligadas. Pelo menos é essa a experiência que os outros estados têm mostrado como lição. Os estados de Pernambuco, Ceará, Bahia e Rio Grande do Sul (para nos alinharmos aos "fora do eixo") estão com uma produção de qualidade e em quantidade, mas é flagrante a política de fomento por parte do Estado através dos editais ou mesmo na provocação direta junto a estatais e empresas da iniciativa privada, daí tem os resultados, que são: formação e produção, básicos dentro da cadeia produtiva para gerar profissionais e mercado. A distribuição ainda é um problema que atinge o cinema brasileiro como um todo, entretanto quando se trata de acessibilidade aos filmes brasileiros já vemos boas iniciativas por parte do governo federal, uma dessas é a Programadora Brasil.

As políticas públicas precisam ser sistemáticas e estratégicas para gerarem os resultados esperados. Não adianta lançar um edital a cada governo, isso se torna balela.

Nós aqui do Pará já podíamos ter uma film comission para atrair produções de fora, esse intercâmbio é interessante. Possibilita a geração de um mercado mais consistente. Hoje, acredito que diariamente tem uma equipe de produção gravando algum aspecto da nossa cultura, elas chegam aqui completas, só faltam trazer o motorista de fora, chega a ser patético. A film comission poderia regular essa área, promovendo mercado para a mão de obra local.

Profª Edilza Fontes: Como se formam os vários profissionais de cinema no Pará, na área de formação o que poderíamos avançar?

Márcia Macêdo: Primeiro, um curso de graduação na área de cinema, hoje só temos cursos e oficinas de nível técnico. Atuar em qualquer área da produção audiovisual exige formação teórica, lamentavelmente nossos poucos profissionais tem formação "na prática" isso torna o processo de formação mais lento e "engessado".

Profª Edilza Fontes: Do ponto de vista das salas de exibição, qual sua avaliação no Estado?

Márcia Macêdo: Estamos cada vez mais dependentes das salas comerciais. O circuito alternativo de exibição, que tem linha direta com a formação, está cada dia mais fragilizado. O nosso grandioso Olympia não faz parte do orçamento da Fundação Cultural de Belém, ou seja, a programação depende do esforço e criatividade da equipe que se empenha diariamente para mantê-lo em funcionamento.

O Líbero Luxardo enfrenta problemas técnicos em seus equipamentos e volta e meia fica ameaçado de não funcionar.

O Cine Estação do Teatro Maria Silvia Nunes não é prioridade para a administração atual, tanto é assim, que as sessões de final de semana que aconteciam duas vezes ao mês, hoje não se sabe quando vão acontecer, pois a prioridade é para a locação do espaço Boulevard das Feiras para os eventos sociais. É difícil fidelizar público sem um serviço sistemático. Isso é lamentável e merecia maior atenção da imprensa, dos colunistas de plantão, pois o espaço é administrado por uma OS que recebe verba pública para manter o espaço e sustentá-lo como espaço de circulação de cultura. O Cine Estação foi implantado em 2001 e nunca esteve tão ameaçado como agora.

Quanto ao circuito comercial estamos bem obrigada, novos salas nesses novos formatos são abertas e começam a se expandir para o interior do Estado, isso indica que é uma atividade comercialmente viável. Entretanto ficamos “escravos” da filmografia americana que em termos de conteúdo culturalmente importante é questionável.

Profª Edilza Fontes: O que fazer para divulgar, a nossa produção de curtas no Pará, que já é boa?

Márcia Macêdo: Os gaúchos produzem DVDs ou outras mídias com os curtas produzidos por lá. Tivemos uma boa experiência com a iniciativa da Fox Vídeo que vendeu o DVD dos curtas paraenses. O curta em animação “A Onda – festa na pororoca” vendeu rápido as mil cópias. Reunir essa produção para ser comercializada e ao mesmo tempo ser distribuída nas escolas é uma boa forma de divulgação.

Profª Edilza Fontes: O que é preciso para construir um bom roteiro?

Márcia Macêdo: Para construir um bom roteiro o básico é ter uma boa idéia. A idéia sendo boa tem que buscar obstinadamente uma forma diferente (original e criativa) de narrar essa boa idéia. Para tanto é preciso estudar, pesquisar, fazer uma opção narrativa que faça a diferença se você quiser que o seu trabalho ganhe espaço e repercussão, para que cada trabalho seja uma janela aberta para um próximo.

Profª Edilza Fontes: A produção cinematográfica no Pará, tem tido incentivos por parte dos editais públicos?

Márcia Macêdo: Pois é, um edital a cada quatro anos, repito, é pura balela. Precisamos de editais para produção todos os anos, precisamos de um edital para elaboração de roteiro de longa metragem, precisamos de cursos avançados de produção executiva, como vender um projeto de longa metragem, enfim precisamos avançar em todos os sentidos. Caso contrário nossos promissores e criativos diretores(como Jorane Castro, Fernando Segtowick, Walerio Duarte, Roger Elarrat e outros) serão eternos curtas metragistas, o que é lamentável.

Obrigada Márcia pela sua entrevista.

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